quinta-feira, 15 de maio de 2008

Velho clichê: pra ninguém vir me dizer que não falo de flores, ora!

Na estrada onde um dia corri criança
Deixei o cheiro de minhas mãos
com meus dedinhos no vento se abrindo.

No vento sentindo o entrepassar do vento.
Com as mãozinhas espalmadas levantava os dedinhos.
Os cabelos iniados que Dna. Maria penteava e dizia:
“Mas isso parece mais palha de milho!”

Como saber hoje o que representa
O asfalto quente numa rodovia de mil direções?

Pode ser o caminho que leva para ontem
Quando chego em casa e já é manhã.

Não sou mais menina que brinca a correr
Colhendo flores de mato, brincando no pasto.

Sou aquela que sonha em nascer
De novo neste caminho, impreciso, longo e inexato.

Minha mãe com seus olhos cansados
Sua luta, sua guerra, valeram, enfim.

Sou hoje uma triste que passa
Na estrada aquém na alegria
Mas não canso de saber que um dia
A estrada se fecha pra sempre, sem curvas, sem sol, nem dia.

F. Pessoa.

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